terça-feira, 19 de fevereiro de 2008


A FILA DO BANCO DO BRASIL, AGÊNCIA IPIRÁ, É BOCA DE ... (parte 2)

Tempo é o que não falta para contarmos os acontecimentos da fila. Caiu na fila ? O tempo vira um tempão. Então, lá vai burburinho. A algazarra no rabo da fila do Banco do Brasil de Ipirá foi aumentando e uma voz rouca foi dizendo com o tom alterado:
- Ô moleque ! tu tá me melando com esse bagunço de jaca, passa na minha frente, que não me importo não.

E a fila foi unânime neste "passar à frente" e o molecote com três bagunços de jaca foi passando e chegou na cabeça da fila e daí para o caixa foi um pinote, esperou somente um sinal do funcionário e ele já chegou dizendo:
- Ô seu home ! bota esse dinheiro aí na conta de Merquide.

- Como é o nome dele e cadê o cartão ? – perguntou o caixa, pegando no dinheiro.

- É Merquide da Jaca – disse o molecote do bagunço de jaca.

- Eu quero saber é o nome todo e o número da conta – disse o caixa.

- É Merquide da Jaca – disse o molecote do bagunço de jaca.

- Sim, cadê o cartão dele ? – perguntou o caixa.

- É Merquide da Jaca, seu home, ele é lá da Caboronga e todo mundo conhece ele. Seu home nunca comeu jaca de Merquide, não ? – indaga o molecote.

O caixa sentiu o sabor da jaca, mas tinha pavor do visgo e não gostava de ficar com as pontas dos dedos tirando o bago da jaca com todo cuidado, sempre melava as unhas bem cuidadas pela perícia da manicure, o caixa não pensou duas vezes e disse:
- Nunca comi jaca; não gosto de jaca e tenho raiva de quem gosta.

O molecote tinha colocado os três bagunços de jaca no balcão; e com a cara de quem não entendia nada foi dizendo:
- Ô seu home ! decá o dinheiro da jaca de Merquide, qui num sei de cartão ninhum e seu home fique sabeno, é qui num sabe trabaiá cumo se a deve trabaiá.

O caixa foi entregar o dinheiro e a mão ficou grudada no dinheiro ou o dinheiro grudou na mão. Agora é que a fila não anda; um caixa só funcionando, numa hora de pique e além do mais, o caixa com a mão pesada e peguenta de visgo, agora é que a fila vai engarrafar.

É nessa hora que o nível de estresse cresce e a fila fica impaciente e começa a dizer o que não deve:
- Agora, isso aqui vai ficar pior do que o engarrafamento da rua de Cima.

- Mas menino ! qual é o engarrafamento que tem na rua de Cima ? Engarrafamento de lascar com um, tem é em São Paulo – contraditou uma senhora.

- Olha dona ! lá é de carro e aqui nesse banco é de gente – contra-atacou a fila.

Eu sabia que aquela discussão ia longe e para colocar mais lenha na fogueira e vê a coisa feder, indaguei para todos ouvirem:
- No entender de vocês, quem sacaneia mais com a gente: é o engarrafamento de São Paulo ou o dessa fila aqui do Banco do Brasil de Ipirá ?

Infelizmente, não tive a alegria de ver o circo pegar fogo, porque uma outra voz, saída não sei de onde, detonou uma falação muito mais inteligente e objetiva do que a minha, ao dizer:
- O vagabundo vem ali.

Logo, três vigilantes correram em direção à porta, com as mãos nos revólveres, para recepcionar o vagabundo, e eu comecei a pensar: "para receber vagabundo tem três homens, mas para atender a gente aqui na fila só tem um caixa, estourando dois e para organizar essa fila, ninguém ?". Como eu estou apenas a uma hora na fila e ainda tenho muito que esperar, essa parte três eu conto depois.

Um comentário:

Lilian Simões disse...

rsrsrsr Massaaaaaa!massa,Agildo!Gosto muito dessa sua habilidade em dar vida e fidelidade até no falar de seus personagens.Lembrei-me do "Zé"um personagem do seu livro que ao ser indagado se ele sabia ler e escrever ele respondeu:"Não sei não senhor,graças ao meu bom Jesus."Sabe o que vai acontecer com essa fila do banco do Brasil? Vai começar a dar camelô!!!Os ambulantes vão aproveitar pra vender tudo que têm direito!!"Olha o tomate aí,ó! pra comer e pra jogar..." "Abacaxi para troféu...quem vai levar?" "Ovos vermelhos!!Pra comer e pra chutar!" "Pepino do bom,a gerência toda já levou..." "Banana!banana!tô dando..." "Ai,que coisa inconveniente,esses camelôs, ainda bem que já chegou a minha vez." "Vai uma lingüiça aí,minha senhora ?"