Ipirá tem coisa interessante: quando uma pessoa das
oligarquias que dominam o município realiza algo, por menor relevância que
tenha, ganha uma notoriedade estratosférica acima do imaginável. Existem grupos
de pessoas que transmitem, no todo ou em parte, a mesma ladainha para que a
projeção ganhe fama e importância social além do merecimento. A importância
fica recauchutada mesmo num engenho ordinário.
Quando se trata de uma personalidade do povo a
conotação devida fica esvaziada. Entra em ação uma espécie de esponja para
apagar o feito, esvaziando o acontecido e provocando uma larga e peremptória
amnésia. O que vem das camadas populares não tem o merecido realce. Assim
acontece.
Não rezo nessa cartilha. No meu entender o que brota
do povo tem mais significado do que aquilo que vem dos subterfúgios das elites.
Vamos deixar de mexeriquice e vamos aos finalmentes. Um homem simples de Ipirá
participou das filmagens sobre a vida de irmã Dulce. Seria o máximo se fosse um
figuraça de colarinho branco.
Foi um feito gigantesco. Trata-se de Dudu dos Oito
Baixos, seu Aloísio do João Velho, que faz um papel de um velho que tocava
acordeom, que era um pária na sociedade capitalista, maltrapilho, mendigo, barbudo
e desprezado, que encontrou no apoio da freira a esperança.
Dudu dos Oito Baixos trabalhou com artistas da Rede
Globo e muitos atores baianos. Em Salvador, o filme poderá ter sua consagração,
desde quando, o povo baiano devota um amor e uma simpatia muito grande à
saudosa irmã Dulce. Por outro lado, existem os bons olhares da mídia e das instituições
como a Igreja católica e o Estado baiano.
Imagino: da Bahia para o giro pelo mundo e lá vai a
figura de Dudu dos Oito Baixos, com sua sanfona, tocando e cativando olhares;
despertando sentimentos e promovendo emoção; encaminhando a sensibilidade das
pessoas para a aptidão de sentir integralmente, para se comover e se impressionar
com o lado humano da vida, mesmo não sendo o artista principal do filme.
Seu Aloísio do João Velho, um homem das camadas
populares de Ipirá, dá um salto gigantesco e encontra a lembrança perene na
arte humana. Vai mexer com corações humanos por este mundo afora. São coisas da
vida. Do João Velho para o mundo sem sair de Ipirá. A arte humana anda a
saltos.
Aloísio do João Velho, também conhecido por Dudu dos
Oito Baixos; codinome: 'o homem que participou do filme de irmã Dulce'. Não sei
se Ipirá reconhecerá! Eu reconheço. Obrigado.
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