Ipirá
é uma grande vítima do devaneio. Ultimamente, definiram a vocação econômica
desse município por decreto. É a coisa mais imponderável que possamos imaginar.
Imponderável e fantasiosa. Por capricho não se atinge a face real das coisas,
apenas aplica-se um ato de fazer modificações superficiais para melhorar-lhe o
aspecto.
Os
números que Ipirá apresenta são desfavoráveis em relação a Itaberaba e Feira de
Santana, nossos vizinhos sombreadores. Quem tira a corda do pescoço de Ipirá é
a fábrica de calçados, que não tem nada a ver com produção de couro no
município. Ipirá é fornecedora de mão-de-obra.
Com
o fabrico de carteiras acontece a mesma configuração. A matéria-prima das
carteiras vem de longe. Ipirá é fornecedora de mão-de-obra. Em Ipirá é
estabelecida a modelagem e confecção das carteiras dentro de um processo de
barateamento da mão-de-obra para uma produção de grande poder de competição no mercado.
Esse
mesmo sistema poderia ser utilizado para um setor têxtil com possibilidade de
manter perspectivas semelhantes ao das carteiras. Capacita-se e oferta-se
treinamento aos trabalhadores. O tecido vem de fora. O empresariado organiza a
produção e o poder municipal faculta o uso do Mercado de Arte (fracassou nesse
sentido) para a comercialização. Isso pode dar certo.
A
festa é fenomenal e foi um sucesso. Mede-se pela quantidade de gente e pela
fuzarca. A feira para o artesanato do Malhador foi estarrecedora, teve gente
que não descolou. O termômetro da feira são as vendas. Se as vendas não
aconteceram, a feira não funcionou.
Fica
difícil içar Ipirá sem projeto. Sem projeto Ipirá fica a deriva, como se
dependesse do jogo de búzios, da sorte, de presságios e augúrios. Na tentativa
de acerto incorre-se em equívocos.
O
couro beneficiado em Ipirá é o dos curtumes do Malhador para o artesanato local, que vive uma crise
persistente. A transformação requer uma operacionalidade simples (costura,
colagem, etc) e muita destreza, aproveitando-se uma mão-de-obra com
qualificação média e de rudimentos tecnológicos simples. Ipirá não é pólo neste
setor. Não tem fábricas nesta área como Franca em São Paulo. Temos fabricos em
garagem. Não temos uma área apropriada para a atividade. Está bastante
desorganizado, desestruturado e desconexo para ter o rótulo de pólo. Isso é uma
simples abstração.
Insistem
em dizer que Ipirá tem vocação para bacia leiteira. A realidade da seca nega
veementemente essa abstração. Produção de leite não é condizente com a nossa realidade.
Se Ipirá ficar nesse patamar de abstração estará fadado ao fracasso mais cedo do que imaginamos. Qual é a produção
viável para Ipirá? Qual seria a atividade de produção para Ipirá abrir o lacre
do éclair e ter produção, beneficiamento, transformação e venda em progressão?
A
realidade é imprevidente, dura e
causticante e não será submetida com abstrações. Na visão do jacu e do
macaco, Ipirá é uma miragem, no formato de uma galinha gorda, apetitosa e
recheada por seis milhões de reais mensais, com alguns espertalhões querendo
comer sua batatinha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário