Incrível, queimou minha televisão! O Fantástico, dia
14-10-12, passou uma reportagem, com uma entrevista, apresentando uma moça toda
empetecada; utilizando, sem dúvida, o seu melhor vestido; cabelo escovado e bem
aprumado; ou seja, produzida pela e para a mídia e, quem sabe, recebendo
garangau.
Desatava um sorriso faceiro pelas extremidades da boca.
Dizia-se “técnica de enfermagem” e confabulava sobre um pequeno equívoco, que
fez com que ela injetasse, inocentemente, café com leite na veia de uma
paciente, que veio a falecer. Um simples acidente de percurso. Simples,
irrelevante e casual. O que aquele café com leite estava fazendo ali naquele
instante?
A televisão coloca a gente diante do cinismo humano em seu
formato mais medonho. Paga para isso. Paga por um sorriso embasbacado e falso a
confabular justificativas que não são menos mesquinhas, mentirosas e falsas,
que na verdade, não passam de subterfúgios da hipocrisia que se vivencia.
Estamos diante da face do desmando, do descaso e da
incompetência. Falta seriedade em quase tudo. Para cuidar de gente em situação
de fragilidade é necessário que se utilize pessoas da área de saúde, médicos
e enfermeiras, com conhecimento de causa.
Essa invenção de “técnica de enfermagem” nos parâmetros
desses cursos que existem em Ipirá é uma aberração estabanada e infeliz, que só
se justifica perante o grande e fantástico contexto de hipocrisia em que se
fundamenta a vida nestes tempos.
Os municípios, nesta contumaz atitude imprudente de servir
como cabide de emprego não querem pagar o piso salarial a uma enfermeira de
nível superior, contratam essas “técnicas de enfermagem” que recebem e
agradecem por qualquer merreca. Pouca recompensa exige quem pouco sabe.
O faz-de-conta educacional não deixa por menos; faz-de-conta
que ensina a esse alunado, que faz-de-conta que aprende e no fim das contas é
uma temeridade, porque não aprende e não
sabe. De consolo só resta a hipocrisia.
Certa feita, cheguei com minha mãe no Hospital de Ipirá e
ela querendo cuspir e, para não fazê-lo no chão, solicitei a uma inoperante e
cansada “técnica de enfermagem” que estava esparramada numa cadeira, cheia de
preguiça e má vontade, um recipiente, ela trouxe um cesto transbordando de
lixo. É o limite de conhecimento da pessoa. Essas pessoas não pensam além do
seu limite.
O café com leite estava no lugar errado. É lastimável! Se lá
estivesse um outro objeto, uma vassoura, por exemplo, ela não saberia o que
fazer; talvez, até pensasse: “que o cabo da vassoura servisse para ser colocado
na boca do paciente”. Talvez, até pensasse isso! E, muito provavelmente, não
chegasse à conclusão de que aquela vassoura era o seu verdadeiro instrumento de
trabalho, desde quando, o chão da enfermaria necessita de limpeza constante e
permanente. Talvez não chegasse a essa conclusão! Porque vivemos num mundo de
hipocrisia, mas é bom saber que contra o reinado da hipocrisia existe a
indignação. Televisão? Compra-se outra, ou vive-se sem ela.
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