quarta-feira, 29 de junho de 2016

É DE ROSCA. (19)

Estilo: ficção
Modelo: mexicano
Natureza: novelinha
Fase: Não sei se vale a pena ver de novo
Capítulo: 19 (mês de dezembro 2015)(atraso de 7 meses) (um por mês)

- “Ficou doido!” – “Quem?” – “Foi mesmo!” – “Não é possível!” –“Não acredito!”

A perplexidade tomou conta da cidade. A boataria dobrou a esquina e entrou pela praça, saiu na avenida, desceu cabeça à baixo e entrou por ruas e vielas. Ninguém acreditava, mas a notícia perambulou por toda a parte, de forma ágil, sem precisar do zap zap, só na base do bocão.

- Tá jogando pedra? Jogou uma pedra na cabeça de quem? (ouviu a resposta não) Então não ta doido ainda. Doido para mim tem que jogar pedra ou rasgar dinheiro. Não fazendo uma das duas coisas, no meu haver, ainda, é caso de recuperação.

Vamos aos fatos que comprovam essa situação inusitada na cidade. Em outubro teremos as eleições municipais e, não tem ninguém, nem nada, que tenha mais interesse nessas eleições do que o Matadouro de Ipirá. Agora, ou vai ou racha. O Matadouro de Ipirá foi sincero e mandou o recado: “Dos dois candidatos, quem não tiver uma entrevista comigo será derrotado.”

Essa última palavra foi o suficiente para criar um pandemônio entre os dois candidatos e a preocupação tomou conta do ambiente dos candidatíssimos, que não tinham noção do atropelo que poderia acontecer, desde quando, esse Matadouro de Ipirá é o símbolo número um do fracasso que representam essas administrações do jacu e macaco para o município de Ipirá.

O primeiro a se manifestar foi o candidatíssimo Marcelão, em campanha pessoal há oito anos e que sabe onde é que as cobras moram e, mais do que ninguém, do que o matadouro precisa. Passou na FM e solicitou: “Junior! Prepare todos os discos de Roberto Carlos que eu vou precisar.”

- Você vai fazer serenata pra madame? – indagou Junior.

- Não. Vou ter uma entrevista importante no Matadouro de Ipirá e vou precisar dos discos de Roberto Carlos – explicou Marcelão.

Alguém avisou ao prefeito Bal que Marcelão ia levar uma D-4 de disco de Roberto Carlos. Ele tomou aquele susto, mas recuperou-se à tempo:
- AH, é! Pois, então, eu vou levar uma carreta de disco de Roberto Carlos.

Alguém telefonou para o Matadouro de Ipirá e avisou o que iam fazer o prefeito Bal e o candidatíssimo Marcelão. O Matadouro ficou meio perdido, sem entender direito, mas pensou rápido: “Não estou entendendo nada! Quem faz a propaganda de carne de boi é mister Tony Ramos, parece que Roberto Carlos é vegetariano. Deixa, eles chegarem, que eles vão ver o que bom prá tosse.”

Marcelão parou em frente ao matadouro, desceu com pinta de prefeito, com jeito, traquejo, fala e tremilique, tudo de prefeito. Ligou o som e começou o discurso:
- Eu cheguei em frente ao portão / meu cachorro me sorriu latindo / tudo estava como era antes / quase nada se modificou / acho que só eu mesmo mudei e voltei.

- Eu quero amor decidindo a vida / sentir a força da mão amiga / o meu irmão com um sorriso aberto / se chorar quero estar por perto – mandou ver o Matadouro de Ipirá.

- Meu bem, meu bem / você tem que acreditar em mim / ninguém pode destruir assim / um grande amor / Não dê ouvidos à maldade alheia e creia / sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo – rebateu Marcelão.

- Tudo vai mal /tudo, tudo, tudo / tudo mudou / não me iludo e contudo / a mesma porta sem trinco / mesmo teto, mesmo teto – exprimiu de forma ritmada o Matadouro.

- Falando sério / entre nós dois tem que haver mais sentimento / não quero seu amor por um momento / e ter a vida inteira pra me arrepender – celebrou musicalmente Marcelão.

- Daqui prá pra frente / tudo vai ser diferente / você tem que aprender a ser gente / seu orgulho não vale nada! Nada! – cantarolou o Matadouro.

- Eu sei que esses detalhes vão sumir / na longa estrada / do tempo que transforma todo amor / em quase nada –  mandou brasa Marcelão.

- Você tem a vida inteira pra viver / e saber o que é bom e o que é ruim / é melhor pensar depressa e escolher / antes do fim – proferiu o Matadouro.

- Você foi o melhor dos meus planos / e o maior dos enganos que eu pude fazer / das lembranças que trago da vida / você é a saudade que eu gosto de ter / só assim sinto você bem perto de mim – delirou Marcelão emocionado.

- Você foi a mentira sincera / brincadeira mais séria que me aconteceu – retrucou o Matadouro.

- Detalhes tão pequenos de nos dois / são coisas muito grande pra esquecer / e toda hora vão estar presentes / você vai ver – cantou Marcelão.

- Se você pensa! que vai fazer de mim / o que faz com todo mundo que te ama / acho bom saber que pra ficar comigo / vai ter que mudar – soltou o verbo o Matadouro.

- Este telefone que não para de tocar / está sempre ocupado quando eu penso em lhe falar / quero então saber logo quem lhe telefonou / o que disse, o que queria e o que você falou / só de ciúme, ciúme de você – deu o tom Marcelão.

- Quero que você me aqueça nesse inverno / e que tudo mais vá pro inferno – exprimiu de forma cadenciada o Matadouro.

- De que vale o céu azul e o sol sempre a brilhar / se você não vem e eu estou a lhe esperar / só tenho você no meu pensamento / e a sua ausência é todo o meu tormento – botou pra lá Marcelão.

- Você não vale nada, mas eu gosto de você / eu só queria saber porquê – enfeitou o Matadouro.

O candidatíssimo Marcelão deu um pinote e já foi esbravejando:
- Ôpa, ôpa! Isso aí não é Roberto Carlos, se for assim eu posso mandar a minha preferida “Tudo vai dar certo” e já fui – Marcelão saiu sem, ao menos, dar um até logo, mas o seu pensamento estava envenenado e ele pensava “esse Matadouro ta pirado, vou arrombar com esse sujeito”.

Candidato é assim; um sai, o outro chega. Foi a vez do prefeito-candidato Bal, que parou em frente ao Matadouro e não perdeu tempo, ligou o som e botou prá lá:
- Quanto tempo longe de você / quero ao menos lhe falar / a distancia não vai impedir / meu amor de lhe encontrar.

- Nunca mais você ouviu falar de mim / mas eu continuei a ver você / em toda esta saudade que ficou / tanto tempo já passou e eu não te esqueci – cantou o Matadouro.

- Você foi o maior dos meus casos / você foi dos amores que tive / o mais complicado e o mais simples pra mim / você foi o melhor dos meus erros – mandou brasa o candidato-prefeito Bal.

- Tudo vai mal, tudo / tudo é igual / quando eu canto e sou mudo / mas eu não minto / não minto / estou longe e perto / sinto alegrias, tristezas e brinco – lançou o sucesso o Matadouro.

- Eu voltei agora pra ficar / porque aqui, aqui é meu lugar / eu voltei pras coisas que eu deixei / eu voltei – colocou musicalmente o candidato-prefeito Bal.

- Tudo em volta está deserto / tudo certo / tudo certo como / dois e dois são cinco – soltou o som o Matadouro.

- Está do seu lado pro que der e vier / por você ele encara o perigo / ama você do seu jeito / esse cara sou eu – proferiu em forma de canto o prefeito Bal.

- Cartas já não adiantam mais / quero ouvir a sua voz / vou telefonar dizendo / que eu estou quase morrendo / de saudade de você – deu uma cantada o Matadouro.

- Venha comigo olhar os campos / cante comigo também meu canto / eu só não quero cantar sozinho – celebrou em poesia o prefeito Bal.

- Por mais que eu sofra / obrigado, Senhor, mesmo que eu chore / obrigado, Senhor, por eu saber / que tudo isto me mostra / o caminho que leva a você – cantarolou em melodia o Matadouro.

- Vem, que eu conto os dias, conto as horas pra te ver / Eu não consigo te esquecer / cada minuto é muito tempo sem você – proferiu em ritmo o prefeito Bal.

- Falando sério / é bem melhor você parar com essas coisas / de olhar pra mim com olhos de promessas / depois sorrir como quem nada quer – arremessou musicalmente o Matadouro.

- Você, que vem de dentro da saudade que eu sentia / da noite mal dormida, da minha fantasia / você, momento eterno, você amanhecer / você, razão do meu viver – enviou um torpedo musical o prefeito Bal.

- Quando você /  me ouvir cantar / venha não creia / eu não corro perigo / digo,não digo , não ligo – botou pra lá o Matadouro.

- Não adianta nem tentar me esquecer / durante muito tempo em sua vida / eu vou viver / não, não adianta nem tentar / me esquecer – cantou o prefeito Bal.

- Quero que você me aqueça nesse inverno / e que tudo mais vá pro inferno – anunciou cantando o Matadouro.

- Só queria lhe dizer que eu / tentei deixar de amar não consegui / se alguma vez você pensar em mim / não se esqueça de lembrar que eu nunca te esqueci – proclamou de forma cadenciada o prefeito Bal.

- Você não vale nada, mas eu gosto de você / eu só queria saber porquê – botou pra lá o Matadouro.

O candidato-prefeito Bal deu um salto de uma tarefa e foi esbravejando:
- Pode parar por aí! Isso aí não é Roberto Carlos, se for assim eu vou arrochar a minha preferida: “Chora bebê” e já fui – o candidato-prefeito Bal não deu nem até logo, mas sua cabeça estava envenenada e pensava “Esse Matadouro ta abilolado, vou botá pocano nesse sujeito.”

Suspense: e agora, o bicho pega? esse matadouro vai ou não vai? Êta novelinha complicada e chata, até outubro é nenhuma, vamos ter mais quatro anos pela frente. Será que vai?

O término dessa novelinha acontecerá no dia que acontecer a inauguração desse Matadouro de Ipirá. Inaugurou! Acabou, imediatamente.


Observação: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária, que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência. Eles brincam com o povo e o povo brinca com eles.

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