sábado, 4 de abril de 2020

A VOZ DO CEMITÉRIO


Em entrevista o presidente Bolsonaro disse: “O vírus é igual a uma chuva. Ela vem e você vai se molhar, mas não vai morrer afogado.”

Chuva no Sertão é uma bênção. Chuva na caatinga é uma lavagem na alma deste povo. A meninada da cidade desafiava raios e trovões, corria para as praças e ruas, saltitante e esfuziante, em busca dos pingos de um chuveiro gigantesco; a água deslizava pela pele. Fazia-se barragem de terra, junto à calçada, para acumular água e resistir à correnteza. Ninguém era engenheiro, mas a peraltice da meninada segurava a água com dois palmos de altura e fazia um rabicho enorme, quando estourava, era uma fuzarca.

A chuva expressa a substância maior dessa localidade seca e árida. Se existe uma coisa que o catingueiro conhece de cor e salteado, essa coisa é a chuva. A nossa gente sabe o bem que ela faz. A meninada daquele tempo, tomando o seu banho na chuva, tirava todo o lodo do corpo; a rabugem ia embora, a lama saia, o sujo escorria e o que emporcalhava o corpo era tirado. O menino ficava leve e limpo, podia levar um mês sem tomar banho, que não fazia diferença e não havia necessidade.

Neste exato momento, o asfalto está passando na frente de minha residência. Não tem mais barro e terra para conter a correnteza. Neste exato momento, esta nossa cidade, como o mundo, está em sinal de alerta. Estamos vivendo uma chuva de vírus, que ninguém vê, não sabe de onde vem, mas quando sente é um problema que vai levar a pessoa à morte e vai morrer como morre uma pessoa afogada, no desespero de quem procura respirar e está sufocado.

O número de casos confirmados no mundo superou a marca de 1 milhão de pessoas. O total de mortos pelo novo coronavírus passou dos 50 mil. O coronavírus está acelerado: em 2 de março, o mundo registrava 92 mil casos; em 31 dias saltou para 1 milhão, quase 1.ooo%. Isso é assustador.

Nos Estados Unidos, até hoje, são 244.000 casos, com 5.926 mortes. Isso, por causa da quarentena. A projeção da Casa Branca é de 100 mil a 240 mil mortes nos EUA, mesmo com as regras de distanciamento social sendo obedecidas. Se não tivesse o isolamento social o casqueiro seria de 1 milhão a 2 milhões e meio de mortos. É a palavra da ciência.

O presidente Trump já avisou que os americanos estejam preparados para dias difíceis. A grande carência de máscaras no mundo, um dos produtos essenciais para evitar a propagação do coronavírus, está provocando um pripocó dos infernos, porque os Estados Unidos comprou toda a produção de máscaras da China e pagaram o triplo do preço por um pedido feito pela França.  Com os EUA é na base dofarinha pouca, meu pirão primeiro e o resto que se lasque.

A população tem colaborado com a proposta sistemática e necessária do isolamento social, sem resistência social, mas tem muita gente nas ruas de Ipirá, criando uma aglomeração indevida. Esse é um grande problema.

O prefeito Marcelo Brandão tem tomado as devidas providências, mas o prefeito sozinho é pouco e pequeno para o tamanho do problema. E o prefeito Marcelo Brandão tem uma vaidade poderosa e ele fala muito e não deixa de cantar Exagerado de Cazuza. Eu sou mesmo exagerado.” Ele acha que tem condições de enfrentar esse problema com semi-UTI no hospital de Ipirá. Não tem, pode preparar o caixão e a vela. Ele quer ser o rei da cocada branca e a gravidade desta situação poderá amargar a vida do povo de Ipirá.

Quero fazer um apelo necessário e fundamental nesse momento de extrema complexidade aos dois líderes da jacuzada e macacada, todos dois são médicos, Dr. Luiz Carlos Martins e Dr. Antônio Colonnezi. A população espera e chegou o momento de um pronunciamento dos dois grandes médicos e políticos sobre a saúde de Ipirá, para orientar e tranqüilizar a nossa população.

Tem muita gente, do nosso povo, que dá uma importância elevada às recomendações dos senhores, então, a nossa população está em busca de um conselho de uma pessoa da sua confiança. A omissão seria imperdoável e significaria dar as costas a nossa população num momento de grande incerteza.

Quero fazer um apelo de extrema importância à Dra. Ana Verena (que foi prefeita por 15 dias) e ao Dr. Maurício Brandão (que foi candidato a prefeito), que substanciado na capacidade, respeito e reconhecimento profissional, além do mais, no conceito elevado  que ambos nutrem junto à população ipiraense, que passem uma mensagem informativa ao nosso povo, que será de grande relevância pela credibilidade, dedicação e conhecimento, na área da medicina, da Dra. Ana e do Dr. Maurício. A população  aguarda e haverá de reconhecer e prezar por essa consideração.

Quero fazer um apelo indispensável a dois ipiraenses de renomado gabarito: Dr. Jolival Soares e Dr. René Saint Clair. O povo de Ipirá tem interesse e necessidade de escutar um comentário e uma orientação sobre esse momento de crise do coronavírus. O Dr. Jolival e o Dr. René são bioquímicos conceituados, de um valor profissional inquestionável e com méritos para informarem ao povo de Ipirá um caminho seguro para a preservação da vida.

A mídia televisiva traz todas as informações, mas é fria e distante. A palavra dessas pessoas tem a marca da confiabilidade e da amizade. As redes sociais é um caminho aberto e viável para toda a população.  Um vídeo feito em casa tem uma penetração muito grande.

A pressão econômica é forte, até partindo do presidente Bolsonaro e indo de encontro ao cogitado pelo Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que defende tecnicamente o isolamento social. Em Ipirá começa a ser esboçado a idéia de que o prefeito MB não conseguindo frear a feira livre, tem que liberar geral o comércio.

Aí a vaca vai tossir até ficar rouca. Seria a idéia do efeito manada a busca da imunidade das pessoas através do contato aberto e do movimento assimétrico, deixando no isolamento o grupo de risco.  Seria uma carnificina. Tirar o povo da rua e gradualmente ir afrouxando a corda seria uma forma de contenção a ser praticada com êxito. Seria o risco calculado..

Ipirá não agüenta uma porrada desse patamar, essa é a grande verdade. Com cinco respiradores e com o assistencialismo da medicina dos vereadores sem nenhuma serventia, as palavras do cemitério soam de forma serena e como um bom conselho para o povo de Ipirá. É assim que se fica distante da morte contaminada em Ipirá. Que não aconteça nenhum caso. Depende de nós.

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